Indicar um deputado para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas neste momento é botar ainda mais gasolina na fogueira. É o próprio anúncio do incêndio que se ateará e dos desastres que se seguirão, de consequências imprevisíveis. Por isso, não deixa de ser um ato de vandalismo parlamentar e governamental. Uma irresponsabilidade oficial. Pautada em normas que já não refletem as necessidades da Sociedade. O gesto que a Sociedade espera e pede é o da reparação dos equívocos feitos. É o do atendimento efetivo de suas demandas legítimas, dos serviços públicos para os quais ela paga caro: ela quer que o executivo execute, o legislativo legisle e o judiciário julgue com a necessária e mínima competência. Com honestidade.
O Paraná, com destaque sua capital, Curitiba, é conhecido por ser o mais frio e refratário dos Estados. Já foi (ainda seria?) o mais reacionário, a ponto de empresas de marketing virem aqui testar a aceitação de produtos novos. É o que mais demora para acompanhar e realizar mudanças. Por isso é o mais conservador. E é assim, parece, que se comporta o seu Parlamento, a nossa Assembleia Legislativa, e o Governo do Estado. Atrasados em relação aos demais do país, ainda não se deram conta da nova Sociedade que estão tentando governar. Enquanto os parlamentos país afora desengavetam projetos de interesse social e os tornam leis, enquanto governos em todo canto reúnem-se com os novos grupos, procurando entender seus anseios e satisfazer suas necessidades, e até mudar suas estruturas de forma a se adequar aos novos tempos, o nosso parlamento e o nosso governo nenhuma reação de adequação esboçam. Continuam a se comportar como se o levante do povo fosse mais um dos protestos que vem acontecendo história afora, em frente a seus prédios. Entendem ser questão de polícia, quando houver excesso, e política tradicional, que depois da gritaria e algumas declarações conciliadoras tudo passa. Parecem ignorar que a situação é mais grave. E é muito mais do que imaginam.
A democracia brasileira está obsoleta. Seus mecanismos de representação já não representam. A nova infosfera cria alternativas só agora percebidas, mas ainda não entendidas pelas velhas estruturas, que teimam ainda viger. O povo, ao fazer uso intensivo dos novos meios de articulação, vai levando a reboque as estruturas que só permanecem vivas por conta seus sistemas de preservação. A demora na atualização dessas normas e a perversão do seu uso, em afronta às reais demandas, cria a tensão entre dois mundos. O real, o do povo, e o obsoleto, quase imaginário, o dos governantes. O real, mais consciente porque vive o aqui e o agora, vê que o dos governantes já não é mais efetivo, funciona mal, deixa de atender a contento até as necessidades mais óbvias, o feijão com arroz que se espera dos serviços públicos, vale repetir: que o executivo execute, o legislativo legisle e o judiciário julgue com a necessária e mínima competência. Com honestidade.