O que queremos nós dos administradores públicos? Que nos “dêm” pão e circo!?: que nos permitam ganharmos a vida com dignidade e, em liberdade, nos realizarmos em nosso potencial humano. Ou ainda mais detalhadamente: que assegurem as condições materiais para que possamos exercer a atividade econômica que nos permita a sobrevivência e nos dêm a esperança para realizarmos nossas principais aspirações como seres humanos. Ou em síntese: que sejam vento a favor em nossos esforços de viver bem. Jamais vento contra.
Para entender a importância da coisa pública basta ver o que ocorreria caso ela não existisse. E o tempo e o espaço nos leva fácil à viagens nessas regiões ermas sem direitos individuais. Antes de Péricles, tido como inventor da democracia lá pelo quinto século antes de Cristo, quem não contribuisse com o censo – um sexto da sua safra – era escravizado junto com sua família. A África de hoje, como mostram as notícias que vem de lá, é terra onde na maioria dos espaços vigora a lei do mais forte e onde o mais fraco vive a mercê da solidariedade e piedade alheias. Mas não precisamos ir muito longe para constatar o que a ausência do governo representa. Semana passada declarou o superindente da Polícia Federal em Alagoas que lá a situação é caótica. A lei não se faz presente. Os mais fortes comandam um espaço sem água, sem saneamento, sem justiça e sem esperança. Fica, pela lógica e pelos muitos e fartos exemplos que nos fornece a História, que, de fato, a garantia da vida em coletividade exige a presença do Estado. Forte para garantir a ordem, mas jamais para cercear as liberdades individuais.
Na prática estaremos satisfeitos quando nossas necessidades forem plenamente atendidas. Se formos excessivamente ambiciosos temos grande chance de nunca nos satisfazermos. Caso sejamos excessivamente humildes em nossas aspirações haveremos de nos contentar com uma quantidade talvez muito aquém da necessária para garantir uma sobrevivência digna. A abordagem da questão sobre a nossa plena satisfação, conforme proposta pelo psicólogo americano Abraham Maslow em 1943 na sua Teoria sobre a Motivação Humana, revela que somos seres quase insaciáveis. Priorizamos o fisiológico (ar, comida, água, sexo, sono, equilibrio físico e a excreção) à segurança (do corpo, do emprego, de recursos, da moral, da saúde e da propriedade). Depois da segurança procuramos o afeto (dos amigos, da família e da parceria sexual). Buscamos a seguir a estima (a auto-estima, a confiança, a capacidade de realização, o respeito a outros e o respeito pelos outros). Segundo Maslow, lá por último em sua escala, depois que as necessidades anteriores estiverem satisfeitas, buscamos a auto-realização (pela via da moralidade, da criatividade, da espontaneidade, da capacidade de resolução de problemas, da ausência de preconceitos e da aceitação dos fatos).
A coletividade é saudável quando assegura nossa saúde individual. Cuidarmos da saúde do coletivo é cuidar de nossa própria. Descuidar com os rumos do coletivo, desde a família, a vizinhança, os grupos que fazemos parte, o bairro, a cidade, o país e o planeta pode nos levar a viver em paisagens indesejáveis e cheias de ameaças. Cuidar do coletivo, não nos deixar alienar, nos remete a situações mais promissoras. A capacidade do coletivo em determinar um destino com padrões de saúde é, em si, patrimônio de todos. Desenvolver este “Capital Social” positivo que leva à saúde do coletivo é tarefa de todos, mas é, sem dúvida, ainda que não usual, bandeira política absolutamente aceitável.
O que queremos de nossos administradores públicos então?: que exerçam de fato as atribuições para eles previstas em nossas leis. A efetividade da execução já nos fornece o ambiente que precisamos para bem viver: trabalho, saúde, educação, segurança, mobilidade e justiça. O fazer de conta, o não levar a sério, o amadorismo, a irresponsabilidade comprometem as próprias sobrevivências individual e coletiva. Muitos são os exemplos em que nem sequer o básico está sendo alcançado. E em todas as áreas. Como se não houvesse respeito pelo cidadão. Como se ele não tivesse importância. Como se o administrador fizesse de conta que administra. Chega de ônibus superlotados! Basta de insegurança! Chega de educação de segunda classe! Basta de filas infindáveis para emergências médicas! Chega de lei do mais forte! Basta de incompetências!
Queremos profissionalismo no trato da coisa pública! Vamos nos antecipar aos problemas! Vamos planejar! Que os administradores conjuguem os verbos das políticas públicas que nos dêm esperança de dias melhores! Não queremos muita coisa: nos bastam políticos e agentes públicos que façam o feijão-com-arroz da política: a política do feijão-com-arroz! O resto a gente cuida sozinho.